16 de julho de 2025

 laura

o tratado nunca fora escrito
por ser um acordo verbal
selado em um beijo errôneo
nos escanteios de um lábio -
rato que sou, desde o início o sinto
e agora, delatado, um comichão :

no comício, entre a mesa e o chão,
dois braços em arrefaceio
de um terceiro toque não ligeiro
arreiam, não em perdão,
mas em súplica
à água vermelha
que brota de minhas pútridas
costas, alheias.

nas madrugadas nuas
ainda imploro esta água
quando sinto o murro
e o ardor de meus relatos
sujando, em creme e azul
melados, meus sapatos.
mas o que hei de regar? 
meus sonhos? 
minhas mágoas? 

a farsa fora desenhada
e o desejo se tornou empáfia.
os verbos ditos são mentidos
e na borbulha em sustentar
a imagem plácida, sacudo
o que há de mais fácil
nos alvoros da paixão -
aqueles onde o pulo
entre a loucura e a razão
restam nos sulcos
do sim e do não.

mas não peço que ela volte,
nem quiçá em sonho esmo.
mesmo assim, me abre em sorte
quando no silêncio da cidade
sua bilhar me faz ensejo.
nos botões, intenções;
nas milhares de monções:
cada ponto um rio
que não irei trafegar.

pois que seja, mesmo quando
ao dia derradeiro
me entregar de bandeja,
ainda pensarei nela
com sua fuça sarracena
e o diabo de plástico -
uma troca que, à primeira vista,
é até faceira, mas na segunda
eclesiástico.



escrito na madrugada do dia 16 de julho de 2025.

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